Aproxima-se o final de um ano, dos mais duros, estranhos e complexos que já vivemos. Ao longo dos últimos meses tivemos que reunir forças para lidar com uma situação tão imprevisível quanto dramática, com um custo humano elevadíssimo. Muitos perdemos familiares e amigos e, por isso, as minhas primeiras palavras são de simpatia e solidariedade. Acrescento um pensamento muito especial para o Dr. João Flores, vitimado pela pandemia, uma figura destacada na Comunidade  que, aos longos dos anos, sempre foi um apoio inestimável para a Embaixada de Portugal e um batalhador da aproximação entre Portugal e Espanha. Sei que interpreto o sentimento de todos os meus antecessores que também beneficiaram do conselho avisado do João Flores quando afirmo que a sua família, a Comunidade, a Câmara de Comércio Hispano-Portuguesa e os seus amigos, todos ficamos mais pobres.   

Neste ano tão atípico desdobrámo-nos em esforços para, num primeiro momento, ajudar as centenas de compatriotas em situação de necessidade em virtude da pandemia. Foi um trabalho de equipa entre a Embaixada, os Postos Consulares, os Consulados-honorários e cidadãos portugueses que responderam “presente” quando deles precisámos. A todos o meu sentido e profundo agradecimento. Assim como também é devido e merecido um agradecimento à colaboração permanente que recebemos das autoridades espanholas. 

Essa colaboração ficou bem patente pela forma como ambos os países articularam a resposta à pandemia. Tiveram que ser tomadas decisões muito difíceis como a introdução de restrições ao trânsito fronteiriço. Mas a cerimónia conjunta, em Badajoz e Elvas, que a 1 de Julho assinalou o regresso à livre circulação de pessoas também mostrou à Europa e ao Mundo, a proximidade, nos bons e maus momentos, entre dois países vizinhos, irmãos e amigos.  

Apesar das circunstâncias, 2020 foi um ano importante para as relações luso-espanholas. Desde o mês de Fevereiro, quando assumi funções em Madrid, pude testemunhar e contribuir para eventos muito relevantes como foram, nomeadamente, as deslocações de Sua Excelência o Senhor Presidente da República a este país para encontros com Sua Majestade o Rei. Também no plano das relações entre parlamentos se registaram acontecimentos dignos de nota como a reunião em Lisboa do Fórum parlamentar luso-espanhol.

E a estreita cooperação entre os Executivos de ambos países registou o seu momento mais significativo, no passado 10 de Outubro, quando a cidade da Guarda acolheu a XXXI Cimeira Luso-Espanhola. Esta reunião marcou uma nova etapa nas relações bilaterais mediante a aprovação da primeira Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço a que se juntou o compromisso assumido pelos dois Chefes de Governo para trabalharem em conjunto na coordenação dos Planos de Recuperação e Resiliência. Na Cimeira da Guarda também foi decidido dar um novo impulso aos trabalhos preparatórios que conduzirão à assinatura de um renovado Tratado de Amizade e Cooperação que irá atualizar e complementar o documento de 1977. Ambos os governos não pretendem perder tempo e já no início de Dezembro se reuniram, em Lisboa, os respetivos Secretários de Estado dos Assunto Europeus a quem foi cometida a tarefa de coordenarem o mecanismo de acompanhamento da execução dos compromissos firmados na XXXI Cimeira. Neste âmbito cumpre deixar, ainda, uma referência à enorme relevância do contributo das Regiões e das Comunidades Autónomas para o relacionamento bilateral.  

Estes últimos doze meses mais parecem doze anos tal foi a intensidade da marca que deixaram nas nossas vidas. Mas convirá não esquecer os excelentes resultados que Portugal obteve em 2019, desde as finanças públicas à economia, desde as exportações ao turismo, desde o desporto à cultura. Foi um período durante o qual Portugal continuou a afirmar-se no contexto internacional e as bases que fomos construindo desempenharão um papel muito relevante na senda da recuperação para a qual todos somos chamados a contribuir ao longo de 2021. 

Os próximos doze meses serão um período de grande exigência. Desde logo pela magnitude dos desafios da governação. Mas também pelo facto de Portugal assumir a 1 de janeiro a Presidência do Conselho de Ministros da União Europeia. O lema escolhido para a nossa presidência, a quarta desde que aderimos em 1986, é "Tempo de agir: Por uma recuperação justa, verde e digital". Aos elementos deste lema gostaria de acrescentar mais uma palavra: "esperança".

É essa esperança que o controle da pandemia, a chegada das novas vacinas, a recuperação da economia e a prática da solidariedade social, me permite partilhar convosco um sentimento de confiança que todos em conjunto, os residentes em Portugal e a grande diáspora espalhada pelos cinco continentes, iremos retomar o percurso auspicioso que marcou 2019. 

O ano de 2020 inicia-se com as eleições para Presidente da República. Deixo aqui um apelo para que todos exerçam o seu direito de voto e, dessa forma, participem na vida cívica de Portugal. 

Em meu nome pessoal e em nome de toda a equipa diplomática e consular em Espanha desejo-vos um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de esperança, de saúde, de alegrias e de afirmação de Portugal. 

 

João Mira Gomes

Embaixador de Portugal

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